terça-feira, 5 de junho de 2012

Edgar Morin



EDGAR MORIN
O ARQUITETO DA COMPLEXIDADE



Edgar Nahum nasceu em Paris em o8 de julho de 1921, filho de Vidal e Luna Nahum sua família é de origem judaica sefardita. A mãe de Edgar tinha um problema no coração e não podia engravidar, mas sua vontade de ser mãe era grande, então escondeu esse problema do marido e quando Edgar tinha 10 anos sua mãe morre e passa a ser criado pelo seu pai e pela sua tia Corinne Beressi, e como não tinha amizade pelo pai, passa a substituir a dor deixada pela falta da mãe pelos livros, é aí que nasce o espírito pesquisador de Edgar. Já na 5ª série começa suas primeiras discussões sobre política. Alguns anos depois quando se preparava para entrar na Sorbonne, a França é invadida por Hitler e precisou interromper esse sonho para fugir já que era judeu, assim trocou seu nome de Edgar Nahum para Edgar Morin. Passa a frequentar a biblioteca e lê tudo sobre sociologia, história e literatura contemporânea. Sua vida política foi marcada pela ousadia e determinismo, sendo sempre ativista em ações estudantis e em partidos de esquerda. Entre 1945 e 1948 casa- se com Violette Chapellaubeau com quem teve duas filhas: Irene e Veronique Nahum; É nomeado tenente-coronel e escreve seu primeiro livro intitulado “O Ano Zero da Alemanha”, dá baixa no exército; Edgar é convidado a trabalhar no jornal destinado aos prisioneiros de guerra; perdi a função com a saída do comunista Croizal; sem emprego passa a fazer free-lance, e passa os dias na biblioteca escrevendo o livro “O homem e a Morte”, é a partir dessa obra que Edgar passaria a formar sua base na cultura transdisciplinar em: geografia humana, etnografia, pré-história, psicologia infantil, psicanálise, história das religiões, ciências das mitologias, história das idéias, filosofia e muitas outras. 
 
Edgar Morin sempre foi e é um teórico e ativista da vida, do mundo e da educação, um educador, filosofo, sociólogo, formado em várias áreas do saber, um homem privilegiado que soube transformar a dor de várias perdas na vida em conhecimento, difundindo para todos os saberes e a complexidade da vida. Edgar tem um legado imenso de saberes, aprendizagens, lição de vida. É um educador e pesquisador que abriu um mundo a nossa frente.

SUAS PRINCIPAIS OBRAS

1946- Ano Zero da Alemanha; 1951- O Homem e a Morte; 1957-1962- Revista Argumentos; 1959- Autocrítica; 1965- Introdução à Política do Homem: argumentos políticos; 1968- Maio/68: A Brecha; 1969- Nova edição de Introduction A Une Politique de L’Homme; 1969- O Rumor de Orléans; 1969- o X da Questão: sujeito à flor da pele; 1974- A Unidade do Homem; 1973- O Paradigma Perdido: a natureza humana; 1975- Nova edição de Autocrítica; 1977- O Método 1: a natureza da natureza; 1978- Os Primatas e o Homem; O Cérebro Humano; Por Uma Antropologia Fundamental – Nova edição, desdobrada, da Unidade do Homem; 1980- O Método 2: a vida da vida; 1981- Para Sair do Século XX; 1982- Ciência com Consciência; 1983- Da Natureza da União Sovietica: Complexo Totalitário e Novo Império; 1984- Problema Epistemológico da Complexidade; 1984- A Rosa e o Negro; 1984- Ciência e Consciência da Complexidade; 1986- O Método 3: conhecimento do conhecimento; 1989- Vidal e os Seus; 1990- Pensar a Europa; 1990- Introdução ao Pensamento Complexo; 1990- Colóquio de Cerisy; 1991- O Método 4: as idéias; 1993- Terra Pátria; 1993- A Decadência do Futuro e a Construção do Presente; 1994- Meus Demônios; 1994- A Complexidade Humana; 1995- Ano Sìsifico; 1997- Amor, Poesia e Sabedoria; 1997- Uma Política de Civilização; 1998- A Cabeça Bem Feita: repensar a reforma e reformar o pensamento; 1998- Ética,  Solidariedade e Complexidade; 1999- A Inteligência da Complexidade; 2000- Le Défi du Xxe. Siècle.Relier La Conaissance; 2000- Dialogue Sur La Nature  Humaine; 2000- Relier les connaissances, Le Seuil; 2000- Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro; 2001- Jounal de Plozévet. Bretagne; 2001- O Método 5: a identidade humana; 2002- Pour une politique de civilisation, Paris, Arléa; 2002- Dialogue sur la connaissance, Entretiens avec des lycéens; 2003- La violence du Mond; 2003- Educar na Era Planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana; 2003- Les enfants du ciel: entre vide, lumière; 2003- Um Viandante dela complessitá, Morrin filosofo a Messina; 2004 – Diálogo sobre o Conhecimento.

SUAS CONQUISTAS, PRÊMIOS E HONRARIAS

Doutor Honoris das universidades vários países inclusive no Brasil; Vários prêmios internacionais, condecorações, medalhas, prêmio de Oficial da Ordem do Mérito da Espanha, homenageado com a Legião de Honra da UNESCO e da França. No México implantou o projeto do Multiversidade Mundo Real que leva seu nome e foi dedicada uma estátua em sua homenagem no prédio do Ministério da Educação. 


ALBÚM DE EDGAR MORIN






“Esperança não significa uma promessa. Esperança significa um caminho, uma possibilidade, um perigo.” Edgar Morin.








ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM

O sociólogo francês Edgar Morin propõe a religação dos saberes com novas concepções sobre o conhecimento e a educação. Para ele estamos na “Era Planetária”, onde estamos todos interligados aos sentimentos que se revela na interação de diversos fatores como o étnico, econômico, gráficos, religiosos, demográficos e muitos outros fazendo com que fique mais difícil entender essa Era, pois a global influência o local e, este é inseparável do global, então para Morin (2005) "A nossa vida cotidiana é determinada pela Era Planetária, por isso devemos conhecê-la para saber quem somos para saber aonde vai o mundo, aonde vai a humanidade[...]".
Defende a complexidade do pensar, enxerga a sala de aula e o cotidiano escolar como uma fonte de pluralidades culturais, sociais e econômicas, aborda a contextualização e a interdisciplinaridade como grandes possibilidades de aprendizagem e sinalizando a comunicação entre as disciplinas. Para Edgar Morin, o sistema educacional propõe um paradigma do que ele chamou de “simplificação”, pois se o ensino deve ser complexo, a escola simplifica e reduz separando o todo em partes, o que Edgar chama de “Princípio do Holograma”, na qual uma pequena parte representa o todo, porque faz parte da complexidade na Era Planetária.  
A Era Planetária quer dizer que os seres humanos dividem um mesmo destino e não podemos nos separar das aventuras da vida, mesmo sendo cada um diferente um do outro pelos pensamentos e pela cultura. Nessa realidade, ignoramos que podemos provocar um problema muito grande no planeta degradando-o e provocando as condições de nossa existência ao longo dos anos. Para Morin a espécie produz o indivíduo e este produz a espécie, sendo assim os indivíduos produzem a sociedade pelas suas influências, mas é a sociedade que culturalmente transforma os indivíduos em completamente humanos. Não nos é ensinado à maneira de pensar e isso torna as pessoas incapazes de idealizar e enxergar a unidade e a diversidade humana, embora os seres humanos ao visualizarem a unidade não veem a diversidade e vice-versa, é necessário pensar a unidade e a diversidade.
Somos todos seres integrais no sentido de sermos físicos, genéticos, técnicos, racionais, cultural e sentimental, então o homem é um ser complexo que atua em diversas áreas, mas sem conhecer o conhecimento. O homem tem que saber a viver a vida e vive-la não só tecnicamente, mas poeticamente no sentido de manifestar a sua personalidade, sua participação na vida, sua comunhão com os outros e com o mundo que o cerca e sendo sempre um curioso complexo. Quanto a isso Morin (2005) nos diz que '' portanto a literatura nos ensina a conhecer melhor o outro, enquanto a poesia é uma introdução à qualidade poética da vida que nos ajuda a entender que se nos emocionamos com poemas, é porque falam das nossas esperanças, de nossas verdades profundas, é dizer que o conhecimento não se encontra só nas ciências''.
É preciso se ter o conhecimento abstrato e o autoconhecimento, por isso é importante incentivar as pessoas a si conhecerem e se autoanalisarem desde a infância através do conhecimento e da consciência, porque o ensino é didático no sentido técnico, mas deveria ser também auto didático transformando os seres humanos em autônomos para enfrentar as dificuldades da humanidade. Esse trabalho é difícil porque nos acostumamos a culpar o indivíduo da sua própria miséria, por isso é mister aprendermos a compreender a si próprio para poder compreender o outro desenvolvendo assim afeição e carinho pelo próximo. O ensino na Era Planetária deve globalizar todos os sentidos citados acima, além de introduzir a interdisciplinaridade é necessário unirmos a várias outras ciências como as cognitivas, as culturais, as psicológicas e as psicoterápicas. Neste aspecto propõe transpor os desafios através da transdisciplinaridade, de forma a utilizar a globalização para produção de conhecimento. Dentro desta contextualização Morin, socializa a diversidade e complexidade, construindo aprendizagem e teoriza a modificação do ensino para as práticas pedagógicas tradicionais utilizadas pelo educador que reproduzem os conteúdos modificando métodos e transformando as práticas pedagógicas de ensino.

Escolhemos uma obra que perpassa muito sobre as concepções da Educação, Os Sete Saberes para Educação do Futuro, que traz alguns tópicos pertinentes:
Erro e a Ilusão, o autor relata que a educação visa transmitir o conhecimento humano e quando transmitimos, passamos também nossa ilusão e com isso erros na informação. Esses erros podem ser mentais, intelectuais e da razão. De fato o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada, da mesma forma, o conhecimento deve aparecer como necessidade, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e de ilusão. Em o Calcanhar de Aquiles do conhecimento: o autor fala de uma educação do conhecimento que não seja ameaçada pelo erro e pela ilusão nos quais são classificados como: os erros mentais; os erros intelectuais; os erros da razão; As cegueiras paradigmáticas; O imprinting e a normatização; A noologia: Possessão; O inesperado; A incerteza do conhecimento. Ele  fala  também da diferença entre a racionalização e racionalidade, Morin considera que a racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Morin fala que o paradigma é que controla a ciência podendo desenvolver as ilusões. Para Edgar Morin a educação deve estar atenta para identificar a origem do conhecimento.
Saber Pertinente, é o conhecimento que permita englobar saberes, permitindo estabelecer relações como diz Morin (2000) “entre o global, o multidimensional e o complexo”. O conhecimento pertinente é isso um produto de um pensar complexo, sabendo operar com os princípios da complexidade, possibilitando religar saberes, então há essa grande necessidade de mudança na pedagogia atual que dá importância a quantidade de informações sozinhas e sem contexto e acaba esquecendo os aspectos humanos, como o sentimento, as emoções, as decepções, a cultura, para uma de conhecimento mais amplo, o educador precisa ser um especialista em conhecimento, compartilhando saberes e dando sentido a eles, trabalhar a comunicação e a informação a serviço do conhecimento para um mundo globalizado e multidimensional.
Ensinar a Condição Humana, Morin afirma que a educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele como vimos nos capítulos anteriores. O “humano” está fragmentado em olhares isolados das próprias ciências humanas. E quanto mais estas avançam, isoladas, mais aumentam a ignorância do todo. O autor apela para que a educação do futuro cuide da unidade e da diversidade do ser humano e busque a articulação entre essas dimensões. O uno e o diverso devem andar juntos. O ser humano só pode ser entendido na articulação entre essas duas dimensões. Todo o ensino deveria considerar a condição humana como objeto essencial no trabalho educativo, unindo os diferentes olhares: os da ciência da natureza, ciências humanas, da literatura, filosofia e da arte. 
Ensinar a Identidade Terrena, segundo Morin ensinar a identidade terrena é aprender a estar na terra, significa aprender a viver, a comunicar, a dividir. Por isso, é necessário ensinar a Era Planetária mostrando como as partes do mundo podem ser solidárias retratando também que existiram e existem problemas que afetam a humanidade. Assim, é imprescindível mostrar as pessoas o complexo da Era Planetária a fim de ensiná-las que os seres humanos dividem um destino comum. Diante disso, as pessoas devem inscrever em si a consciência cívica, a ecológica, a espiritual e a antropológica que provém do exercício complexo do pensamento e nos faz criticar mutualmente e compreender o meio que nos cerca. O foco desse saber é salvar a diversidade e a unidade humana. Segundo Morin que considera o nosso planeta um turbilhão em movimento, é preciso criar nas pessoas um pensamento de pertencimento a humanidade planetária participando ativamente de forma solidária na sociedade, sabendo que todos os nossos atos e descasos influenciam o rumo do nosso planeta.
Enfrentar as Incertezas, Morin afirma que é necessário ensinar estratégias através das quais as pessoas poderão enfrentar o inesperado e os imprevistos. O autor diz que é importante aprendermos a lidar com as incertezas do conhecimento. Para Morin (2000) ‘’é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélago de certeza’’. Ele afirma que o papel da educação é fazer as pessoas aprenderem a lidar com as dificuldades do mundo, pois o principio da incerteza nos diz que existem coisas certas e incertas na sociedade. Assim, Morin afirma que os seres humanos se preparam diante das incertezas que os cercam através do pensamento. Morin chama a história humana de aventura desconhecida e diz que a inteligência deve deixar de tentar antecipar o destino humano.
Ensinar a Compreensão, implica em compreender a comunicação humana a identidade terrena numa visão planetária. Buscando entender a educação e compreende-la em uma dimensão em que conviemos no mesmo mundo, e aprendemos o valor dele, dimensionando que tudo estar liga e interligado em todos os sentidos, visando à importância da educação e os saberes para compreender os diversos níveis da complexidade em que vivemos, tornando-as um objetivo comum que é a educação para humanidade. Buscando compreender a unificação dos indivíduos, propondo que as relações interpessoais, cooperam para a melhoria das convivências entre os seres humanos minimizando assim, a incompreensão, o racismo, da xenofobia, o desprezo entre outros.  Assim sendo, construindo uma estrutura segura para uma educação e para a paz, que tanto almejamos mediando em um só consenso viver transformar a intolerância. Para essa compreensão é necessário uma ética, que nos leva a arte de viver e conviver juntos de maneira desinteressada compreendendo a incompreensão do outro.
Ética do Gênero Humano, isto é a antropo-ética quer dizer a ética do indivíduo, da sociedade e da espécie, formando uma trindade que não podem ser separadas, porque a ética depende da cultura e da natureza humana. O homem precisa desenvolver a ética como autonomia pessoal que é a nossa responsabilidade e ética como participação social que a responsabilidade social, pois todos nós compartilhamos de um destino comum que é a democracia, pois o cidadão precisa se sentir solidário e responsável para nos levar a cidadania e o poder da tomada de consciência social, porque existem muitas causas importantes para o destino da humanidade em suas contradições, suas complexidades e suas plenitudes.

O que Edgar Morin nos quer dizer nos sete saberes sobre a educação, é que devemos nos amparar numa educação complexa que interligue todos os buracos deixados soltos por muito tempo, para podermos ter uma consciência crítica e cuidarmos do planeta em que vivemos. Afinal, estamos na Era Planetária, e só uma educação complexa poderá nos transformar e é nos transformando que poderemos modificar a sociedade e consequentemente cuidar do planeta com todas às suas complexidades, inclusive a nós mesmos, que fazemos parte dessa grande nave como Morin mesmo nos sinaliza.
 
“Devemos conscientizar a todos sobre essas causas tão importantes, pois estamos falando do destino da humanidade”. (Edgar Morin)




Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro




Indicamos os vídeos: Edgar Morin - Educação parte 1 e 2


Referências:

MORIN, Edgar. Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 3 a. Ed, 2001. Disponível em :

Cronologia Edgar Morin. Site Edgar Morin. Disponível em: http://www.edgarmorin.org.br/vida.php?secao=con Acesso em 12 de maio de 2012.

UNESCO, Paris, 2005 – Edgar Morin – Conferência do Ciclo Universo do Conhecimento. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=shOEPRPDZEY . Acesso em 19 de maio de 2012.




Equipe Transformação 


Fonte: Monica Queiroz


Aldaci Ferreira Figueiredo
Leonice Lima da Silva Santos
Lucilene Alcântara Oliveira
Maria Conceição Sales Santos
Maria Monica de Queiroz Pestana
Roseane de Jesus Dias










segunda-feira, 4 de junho de 2012

Iracema Meireles - Atividade II PPP3


Pesquisa e Prática Pedagógica III
Atividade II
Aracy Oliveira da Cruz
Edmilson Farias
Ernest Mchota
Paloma Lôbo Costa
Regina de Azevedo Moreira Menezes
Rosane Caldas da Silva

Iracema Meireles


Biografia

Iracema Furtado Soares de Meireles, nasceu a 17 de março de 1907, em Recife e morreu a 9 de março de 1982, no Rio de Janeiro. Filha de Tito Lívio da Silva e Maria Joana Guerra da Silva. Foi casada com Silo Furtado Soares de Meireles, teve 2 filhos e 6 netos.

Passou a infância em Recife com seu irmão Luiz. Tinha saúde frágil, razão pela qual aprendeu a ler em casa e só frequentou escola a partir dos oito anos. Estudou na Academia de Santa Gertrudes, em Olinda, e no Colégio das Damas, em Recife. Com a mudança de sua família para Salvador, Iracema ali continuou seus estudos formando-se professora pelo Instituto Normal, em 1926. De volta a Recife, fez o Curso Pedagógico - equivalente hoje ao de Pedagogia – no Colégio Pritaneu.
 


Ainda jovem, conheceu a Europa, morando na França, na Alemanha e em Portugal. Lecionava na rede pública de Pernambuco e também particularmente. Embora de família católica e educada em colégio de freiras, entusiasmou-se com as idéias socialistas e aproximou-se do Partido Comunista, onde estavam muitos dos seus amigos.


Engajou-se na luta por justiça social, mas sem ser radical, lutou por uma democracia que contemplasse os prismas políticos, econômicos e sociais. Assim conheceu Silo Meireles - que era um dos chefes da revolução de 1935 em Recife – com quem viria mais tarde a se casar. Com a eclosão e o fracasso do movimento, Silo foi preso e Iracema demitida do serviço público do seu estado.

Cursando então a Faculdade de Medicina, Iracema interrompeu seus estudos e se envolveu nas lutas pela garantia de vida dos presos políticos. A repressão se intensificava, inclusive com ameaça de fuzilamento dos líderes da revolução. Silo permaneceu preso e incomunicável por dois anos. Neste período, Iracema acompanhou-o de longe, como pôde, levando a ele e a seus companheiros, pequenas encomendas e muitas mensagens disfarçadas. Depois de dois anos em cela úmida e escura, Silo encontrava-se com a saúde abalada. Transferido para uma prisão no Rio de Janeiro, e com o estado de saúde agravado, foi, depois de algum tempo, removido para uma prisão hospitalar, onde Iracema então passou a acompanhá-lo na condição de esposa.

Mais tarde, já em liberdade, Silo aceita o convite de João Alberto Lins de Barros para trabalhar na Fundação Brasil Central em Caiapônia em Goiás e Iracema, já com dois filhos, o acompanha. Nesta ocasião, volta a trabalhar em Educação, num grupo escolar da cidade, atuando voluntariamente. Silo é transferido para Uberlândia em Minas Gerais. Nesta cidade, moram numa chácara afastada do centro. Iracema passa a lecionar em casa e alfabetiza a filha mais velha. A família volta a residir no Rio de Janeiro, em 1948. Nessa época dava aulas de matemática para filhos de amigos e de familiares.

 A professora Iracema Meireles.

Certo dia chegou André, com 12 anos, analfabeto. Desanimado, parecia indiferente a tudo e tristemente conformado com a condição de incapaz. Iracema começou a conversar com ele e da conversa, saiu o projeto de construir um parque. Idas ao Jardim Zoológico da cidade, as compras de material, a serrinha tico-tico não parava de subir e descer. Os bichos iam surgindo das mãos de Iracema e André. As conversas intermináveis iam dando em frases, que iam dando em palavras. As palavras eram partidas em sílabas. As sílabas iam sendo selecionadas para formarem novas palavras. A maquete do zoológico estava quase pronta, Iracema inventava situações de leitura e escrita e o menino aprendeu a ler, a escrever e a gostar de estudar. Para André, o problema estava resolvido. Com aulas particulares, ele venceu a defasagem idade/série. Tratava-se de uma dislexia, depois identificada. Para Iracema, entretanto, o “problema” apenas começava. Ela, que adorava desafios, ficou extremamente motivada diante daquele “desafio pedagógico”: alfabetização de pessoas que não aprendiam na escola como todo mundo.

O caso de André em particular e o analfabetismo existente no país, problema que sempre a preocupara, colocaram, deste momento em diante, a alfabetização no centro dos seus interesses pedagógicos. Lia tudo a respeito, acompanhava as atividades da Escola Guatemala, a escola pública do Rio de Janeiro, onde se realizavam as experiências e os estudos pedagógicos mais avançados da época (anos 50). 

Em 1952 colaborou na fundação do Instituto Santa Inez, no Rio de Janeiro. Nesta escola, começa a desenvolver algumas ideias próprias, que põe em prática em pequenos grupos de crianças e a partir de suas observações em sala de aula começa a esboçar o que será seu futuro método.
Com base nas observações do MEC, a professora Carmen Teixeira, diretora do Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador, decidiu utilizar o novo método nas Escolas-classe. Como consequência desta experiência , em outubro de 1963, a pedido do professor Anísio Teixeira, foi feita a primeira edição da cartilha, com o nome de História da Casinha Feliz.
Seu trabalho se expande. Leva para diferentes lugares a Casinha Feliz e seus moradores- bonecos e letras, e vai contando suas histórias e ensinando a ler e escrever. Assim Iracema chega às favelas, alfabetiza crianças repetentes com distúrbios de conduta,
estende seu trabalho aos adultos e doentes de tuberculose, começa a ser convidada para outros estados e viaja por quase todo o país, alfabetizando e ensinando a alfabetizar.

Foi condecorada em 1971 com a Medalha do Pacificador, conferida pelo Ministério do Exército, em virtude dos relevantes serviços prestados à alfabetização de adultos. Ao caminhar pelo Brasil, marcou uma trajetória de iniciativas e ações dedicadas à educação e à questão social. Lutou tenazmente pela dignidade do ser humano que precisava tornar-se um leitor consciente e participativo nas mudanças do seu país.
Criou um método de alfabetização completamente original, profético em vários sentidos.


O Método Iracema Meireles foi aplicado no Brasil e no exterior por mais de meio século e em 1997 foi substituído pelos métodos de alfabetização construtivista, contudo sua experiência marcou a infância de muitas pessoas que se alfabetizaram de maneira prazerosa e lúdica.
Biografia por Eloisa Meireles
Obras, histórias, brinquedos e canções.



   


A Casinha Feliz A Casinha Feliz é um conto infantil que mostra a vida de uma família e envolve as crianças na fascinante aventura da leitura e da escrita de forma lúdica e criativa, transformando a sala de aula num espaço interativo de aprendizagem, sonho de todo educador.

É Tempo de Aprender
Indicado para a alfabetização de adolescentes e adultos. Geralmente para cursos supletivos ou para alunos repetentes de classes de alfabetização.
Contos Infantis:
Outras Histórias da Vovó Marieta.
Novas Histórias da Vovó Marieta.



Casinha pintada para o teatro de fantoches (não inclui a cortininha).

CD com Cantigas de roda com letras adaptadas à Casinha Feliz, apresentando os amiguinhos e os ajudantes com seus respectivos sons.
Caixa de Fantoches - Contém os fantoches e bonecos de todos os moradores da Casinha Feliz (mamãe, papai, vovó, vovô, Vevé, Vivi, Vavá e Neném), as figuras-fonema (bonecos e letras) e ainda o cenário representando o quintal da Casinha Feliz.
Palavra do Professor
“Jamais a administração escolar pode ser equiparada à administração de empresa. Em educação o alvo supremo é o educando, a que tudo mais está subordinado; na empresa, o alvo supremo é o produto material, a que tudo mais está subordinado...” (Teixeira, 1968)
 
Introdução 
No mundo contemporâneo, os educadores se preocupam por fazer com que a educação seja cada vez mais significativa na vida do aluno. Só assim a educação se torna um meio de transformação da realidade na qual esta inserida.
Sem duvida nenhuma, o método de alfabetização criado por Iracema Meireles na década de 1950, fazia com que os símbolos se aproximassem do aluno de forma lúdica. Isso era possível por meio de associação de sons a imagens ligadas ao cotidiano.
Não tem como um educador não se apaixonar pelo método de alfabetização já que é uma forma realista e palpável de lidar com a educação. É indiscutível que nos primeiros anos onde todo aluno consolida as habilidades de leitura e escrita como meio de tomar consciência da sua realidade e do mundo à sua volta.
Por meio desse método se percebe que desde os primeiros anos o aluno se torna o protagonista do processo de aprendizagem. A rapidez com que os alunos se alfabetizavam favorecia sua autonomia e abria imensas possibilidades ao desenvolvimento do aluno.
Esse método de alfabetização deixa entender que o educador não pode ter o monopólio do conhecimento e que ele é simplesmente o facilitador. Portanto, é chegada a hora na qual cada um de nós como educador deve se tornar a outra Iracema Meireles. Vejamos então de perto o pensamento dela sobre a escola, o ensino e a aprendizagem.

O principio da Cartilha Casinha Feliz.
A Casinha Feliz é um conto infantil que mostra a vida de uma família e envolve as crianças na fascinante aventura da leitura e da escrita de forma lúdica e criativa.

O método proposto pela Casinha Feliz – Método Iracema Meireles – adota a concepção fônica do ensino da leitura. A diferença no método que a professora desenvolveu para outros é que ela faz a associação das letras com figuras que sugerem sons. E aí está o segredo do sucesso desse método que foi utilizado por muitas décadas no Brasil e em outros países também. A concepção da Cartilha Casinha Feliz está no aprender-fazendo, ou seja, ela favorece a autonomia do educando possibilitando o desenvolvimento da leitura e á produção de diferentes tipos de textos.   
Encontramos influências na construção da cartilha na Tendência Liberal Renovada Progressivista, que faz parte das Teorias Positivistas/ Reformistas, e que aqui no Brasil ficou conhecida como Movimento Escola Nova, com inicio em 1932, após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, que teve como principal defensor Anísio Teixeira, o mesmo que auxiliou a Prof.ª Iracema Meireles a publicar sua cartilha.
Nesse movimento Iracema Meireles encontrou inspiração para desenvolver suas ideias. A Escola Nova defendia, assim como ela, que “(...) a educação era o caminho para promover o desenvolvimento do país e a universalização da escola pública, laica e gratuita, ou seja, a escola era meio de combater as desigualdades sociais da nação”. (SILVA, 2010, p30).
Foi baseado nessa visão da educação que o método de alfabetização Casinha Feliz foi criado. Para ela, a cartilha era um elemento que levava em consideração as diversidades, o respeito à individualidade do sujeito, deixando seus alunos aptos a refletir sobre a sociedade e de se inserir nela, através da alfabetização, desenvolvendo um cidadão que fosse atuante e democrático. Assim Iracema Meireles colocava que a sala de aula desde o seu primeiro dia deveria ser o lugar,
(...) do livro de história, da gravura, do poema, do texto ilustrado pelas crianças, da pesquisa no jornal e na revista, das lendas, das parlendas, das adivinhações, do desenho, da pintura, da música, da expressão do pensamento e do diálogo. (MEIRELES)
E isso também deveria ser compartilhado com o professor, já que a unindo seus conhecimentos com o método, eles explorariam todo o potencial dos seus alunos, mesmo aqueles que apresentassem algum tipo de dificuldade de aprendizagem, como foi o caso do aluno André.
Portanto, a cartilha Casinha Feliz método de alfabetização da Prof.ª Iracema Meireles, visava em seus ensinamentos à vida-experiência, ou seja, propiciava a experiência e a aprendizagem dentro da vida. Em seu olhar, Iracema acreditava que a educação tinha a função de democratizar oportunidades, como era o lema do movimento Escola Nova, que no seu ideário ao falar de direitos iguais perante a Lei, fazia referência, a igualdade de oportunidades para todos perante essa Lei.
Concepção sobre a Escola
Para ela, escola tem que estar relacionado ao lúdico, criativo e ao sabor das brincadeiras de infância e ao prazer. Por causa do seu método de alfabetização e dos altos índices de analfabetismo no país, a escola teria o dever de forma leitores conscientes e participativos nas mudanças do seu país. Assim a sala de aula deve ser um espaço interativo de aprendizagem e fascinante.
Essa concepção vem da sua experiência pessoal, pois passou sua infância brincando nos quintais da casa com seu irmão Luiz, aprendeu a ler e escrever em casa por causa da saúde frágil e só freqüentou a escola a partir dos oito anos. Por isso a escola deve incentivar o brincar no aprender de forma livre e espontânea, e a leitura e escrita devem ser incentivadas pela escola sem ter aquele compromisso do dever de casa, com horários rígidos. As experiências da infância foram decisivas no pensamento da professora:
“Criança tem que ter tempo de brincar... Brincar é coisa séria. O brinquedo é uma forma embrionária de trabalho; quem observar uma criança brincando, verá que ela está tão compenetrada quanto um adulto desempenhando uma importante função.” (MEIRELES)
Outro fator importante era a junção escola e família, ela acreditava na participação da família nos estudos e pesquisas dos filhos, mas de maneira interessada e não como algo obrigatório, pois como na sua própria experiência, sabia da sobrecarga da mulher em ter que trabalha fora e ter uma carreira profissional, e ainda ser esposa e mãe. Ela comenta isso da seguinte maneira:
“... Dever de casa tem que ser pouco; mais para criar hábitos de responsabilidade do que para reforçar a aprendizagem. Dever de casa só faz sentido se a criança for capaz de fazê-lo sem ajuda dos pais. Senão, que será dos pais que chegam tarde, cansados do trabalho? E que será das crianças cujos pais não sabem ou não podem ajudar?” (MEIRELES)
A concepção de Iracema Meireles em relação à escola era muito simples: escola tem que integrar com a família e a comunidade em que ela se encontra, tem quer ser em tempo integral, em ambientes adequados, perto da natureza, oferecendo cuidados e educação de qualidade. E isto, segundo ela, é uma tarefa do estado para todas as crianças. Escola tem que ser gratuita e de qualidade.
Concepção sobre o ensino e aprendizagem.

A proposta pedagógica do ensino e aprendizagem de Iracema Meireles parte do princípio de que a leitura e escrita ampliam a capacidade de autonomia necessária para que o aluno avance no processo de construção do seu conhecimento.
Seu principal objetivo ao criar o método de alfabetização e a cartilha Casinha Feliz era a difusão da leitura e escrita em qualquer faixa de idade, raça, posição social e isso deveriam ser feitos de forma lúdica, o aprender-brincando.
No lançamento de sua cartilha com o apoio do Prof. Anísio Teixeira, ela deu uma entrevista a Revista do Ensino número 90, Editora Globo, em março 1963. Nessa revista ela apresentou sua visão sobre a troca do ensinar e aprender para o professor e aluno no ambiente escolar, que foi a base para construção do seu método:
“Não inventei nada. Na minha vida de magistério, aprendi a observar a criança, o seu modo de agir e reagir, as suas dificuldades pessoais. Creio que a professora é tanto mais professora quanto mais e melhor entende seus alunos. O êxito da criança na aprendizagem (portanto êxito também da professora) depende muito mais daquilo que a professora recebe da criança do que daquilo que lhe dá. Se a mestra sabe receber, isto é, aceitar o aluno como ele é, atentar para o que ele traz ou necessita, então tudo dá certo. Como considerar novo o nosso método, se durante mais de dez anos, nós o aprendemos, nós o estudamos em um livro imenso e belo – a Criança. Nosso era só o empenho, o propósito de proporcionar às crianças que aprendiam a ler e a escrever uma situação emocional boa ou mesmo ótima, se possíveis. Mas isso só se consegue com um mínimo esforço de memória e um máximo de interesse.”
Para ela o ensino- aprendizagem consiste em troca e interação constante por ambas as partes.
Outra influência em sua visão era as questões sociais, a condição de marginalização que ficam relegados àqueles que têm baixo ou nenhum poder aquisitivo. Como foi uma militante ativa junto com o marido na Ditadura Militar no Partido Comunista, ela fez da alfabetização popular seu instrumento de luta política e ação pedagógica e era categórica: “Minha luta política é pela alfabetização dos brasileiros.” Ela afirmava que a alfabetização era o caminho para conscientização do individuo e que numa sociedade letrada é o primeiro passo para a cidadania.
Sua ação pedagógica era no corpo a corpo com o aluno e passou toda a sua vida dispondo-se a ir aos lugares mais distantes do Brasil para difundir sua forma de ensino e o direito a escola pública de qualidade.
Acreditou que todo o processo de construção de conhecimento deve ser feito através da escuta e respeito pelo outro, atentando para as diferenças e dificuldades que os alunos apresentam e ressaltando sua diversidade.
Iracema Meireles era uma professora apaixonada pelo que fazia, estudava e lia muito, cursou outra universidade, mas seu objetivo foi sempre aprender mais para ensinar melhor. No Primeiro Congresso Brasileiro de Terapia da Palavra, em 1969 no Rio de Janeiro, fez pronunciamento centrado na alfabetização. Em determinado momento ressaltou:
“Num país como o nosso, onde o analfabetismo desgraçadamente atinge índices tão altos, o problema da alfabetização do adulto apresenta-se de magna importância. Pode e deve ser considerado verdadeiro problema de defesa da nossa nacionalidade. Na qualidade de velha professora primária, cuidando nos últimos anos da alfabetização, não posso deixar de voltar os olhos com tristeza para o analfabeto adulto de nossa terra, vendo-o tão numeroso, quase às portas do último quartel do século xx.” (MEIRELES, 1969)
Ao caminhar pelo Brasil, marcou uma trajetória de iniciativas e ações dedicadas à educação e à questão social. Sua concepção sobre o ensino e aprendizagem era de maneira contextualizada e lúdica, acolhendo a fala do aluno e respeitando sua individualidade. Valorizava as diferentes manifestações artísticas do nosso país, trazendo para o processo de alfabetização as histórias, o teatro, a literatura, a música e as brincadeiras que compõem o nosso acervo cultural tanto que seu método de ensino foi utilizado por mais de meio século tanto no Brasil e no exterior e foi  reconhecido na época por muitos pesquisadores como a mais eficaz para indivíduos das mais diversas origens e com dificuldades de aprendizagem.

REFERENCIAS
MEIRELES, Eloisa. Iracema Meireles, profissão professora. Disponível em: <http://www.acasinhafeliz.com.br/indexFrameset.htm> Acesso em: 21.maio.12.

FREITAS, Leda Fraguito Esteves de. A casinha feliz. Disponível em: http://espacoeducar-liza.blogspot.com.br/2009/12/cartilha-casinha-feliz-metodo-de.html Acesso em: 21.maio.12.
FONTE: http://espacoeducar-liza.blogspot.com.br/2009/12/cartilha-casinha-feliz-metodo-de.html

SILVA, Diana Leia Alencar de.  Aulas 1 - 5 – Didática. In: UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS. Módulo da disciplina Didática: curso de Pedagogia. Salvador: Unifacs Ead, 2012. p. 5-65. Disponível em: <http://www.ead.unifacs.br/moodle/course/view.php?id=3199>>. Último acesso: 12.maio.12

SCHRAMM, Marilene de Lima Korting. As tendências pedagógicas e o ensino aprendizagem da arte. Site Arte na escola. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=23>. Último acesso: 18.maio.12