sexta-feira, 8 de junho de 2012

PAULO FREIRE: O EDUCADOR DA UTOPIA

Paulo Freire é um educador sobre o qual todos sabem e, ao mesmo tempo, poucos realmente são os que podem falar dele algo mais de perto, para além do conhecido rosto do homem calvo, de cabelos e barbas longas e brancas, usando óculos sob o qual se mostram olhos atentos e diretos; para além ainda do seu método de alfabetização de adultos que revolucionou uma época, fazendo emergir a importância da relação entre o educando, o objeto de conhecimento e as relações entre ambos e o contexto social no qual estão inseridos. Isto porque Paulo Freire é o homem, mas também o mito; é o educador, mas também seu pensamento.
Nascido nos anos 20, em Casa Amarela, bairro de Recife, perdeu o pai cedo e houve épocas em que passou fome; formou-se em direito, chegou a abrir um escritório de advocacia, mas preferiu ser educador. Profundamente conhecedor da realidade brasileira, fazendo uma opção clara pelos oprimidos, os esfarrapados, definiu-se como nordestino, brasileiro e, por fim, um cidadão do mundo. Seu pensamento em tudo reflete sua trajetória de vida, é justamente seu olhar para o local (de onde se vem) e para o global (o ser mundo) que o fez tecer uma ética voltada para a autonomia e responsabilidade do sujeito frente às demandas e necessidades planetárias.
Foi cientista, intelectual, militante político, educador, filósofo da libertação, revolucionário, sendo sua grande contribuição, como um dos maiores pensadores brasileiros do século XX, exatamente a sua capacidade transdisciplinar, de trilhar e cruzar o caminho de diversas disciplinas, influenciando pensadores das mais diferentes áreas. Marcando, no entanto, indelevelmente, o chão do fazer pedagógico.

O Homem

Paulo Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife. Seu pai era oficial da Polícia Militar de Pernambuco e, sua mãe, dona de casa. Aprendeu a ler com os pais, teve seus primeiros anos escolares em Jaboatão e, em seguida, para continuar seus estudos, sua mãe, então sozinha, viúva, desesperada, com os filhos para criar, sem ter meios, andou de mãos dadas com Paulo Freire pelos colégios de Recife em busca de um que lhe desse uma bolsa de estudos, até chegar ao Colégio Oswaldo Cruz, de Aluízio Araujo, que o aceitou. Apenas aos 16 anos é que ele entrou no que seria hoje o sétimo ano do ensino fundamental, apresentando ainda alguns problemas de escrita.
No mesmo Colégio Oswaldo Cruz, em 1941, ele começou a trabalhar dando aula de Português. Foi como professor de português que Paulo conheceu Elza, com quem viveu 40 anos e teve cinco filhos. Sua segunda companheira de jornada, pós viuvez, seria Ana Maria Araújo Freire, filha de Aluízio Araújo, que se tornou a sucessora legal de sua obra.
Nos anos 50, lecionou em algumas faculdades da Universidade do Recife, sendo nomeado em 1961 professor de ensino superior na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da mesma universidade. Ainda no Recife, em 1960,cria-se o Movimento de Cultura Popular e é no âmbito do MCP que Paulo Freire desenvolve o seu método de alfabetização de adultos. Depois da experiência de Angicos, Rio Grande do Norte, na qual alfabetizou 300 adultos em 40 horas, foi convidado para a elaboração do Plano Nacional de Educação, a pedido do Ministério da Educação.
Entretanto, logo após o Golpe Militar foi perseguido e se viu obrigado a viver no exílio por mais de 15 anos, tendo transitado pelos Estados Unidos, Europa, África e Ásia. Retornou ao Brasil nos anos 80, assumindo uma carreira de professor em diversas universidades brasileiras e, em 1989, assumiu a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Em 1991 foi fundado em São Paulo o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire. O instituto mantém até hoje os arquivos do educador, além de realizar numerosas atividades relacionadas com o legado do pensador e a atuação em temas da educação brasileira e mundial. Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, às 6h53, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma operação de desobstrução de artérias.
Publicou mais de vinte livros, fora as obras publicadas em co-autoria. Recebeu 39 títulos de doutor honoris causa no Brasil e o no exterior, fora inúmeras homenagens além do reconhecimento da importância e atualidade de seu trabalho e seu pensamento.
Seu Pensamento

Segundo Gadotti (2005, p. 8), “o núcleo central do pensamento de Paulo Freire (...) é a utopia”. De fato, ao mesmo tempo em que procura superar a noção de uma escola descontextualizada da realidade, tão corrente nos anos 60, ele não permite se abater pelas teorias críticas que afirmam a escola como um lugar de reprodução sem possibilidades de renovação dessa mesma realidade.
Contundentemente crítico do neoliberalismo, Freire se posiciona contra a ética de mercado, diante da qual o consumo é uma das principais formas de realização humana e cujas bases desenham um futuro perverso, excludente, sem espaço para o sonho e a utopia, para pensar e construir um mundo possível para todos.
Em sua prática pedagógica, Gadotti (2005) coloca que a teoria e a prática de Paulo Freire sustentam-se sob quatro intuições originais, são elas:
·         Ênfase nas condições gnosiológicas da prática educativa: foco na forma de conhecer, muito mais do que nos conteúdos. Para Paulo Freire, “educar é conhecer, é ler o mundo, para poder transformá-lo” (GADOTTI, 2005, 11).
·         Defesa da educação como ato dialógico: conhecer na teoria freiriana é se relacionar, é dialogar com o outro, com o mundo, é um processo de ir e vir, de desconstrução e reconstrução de novos saberes.
·         Noção de ciência aberta às necessidades populares: necessidade de construir e lidar com o conhecimento a partir de categorias concretas como o trabalho, a pobreza, a fome, a justiça social, etc.
·         Planejamento comunitário, participativo: incluindo pesquisa participante, gestão democrática, ou seja, uma possibilidade de dar voz aos sujeitos.
Importante destacar que o método de Paulo Freire foi criado em um momento em que era vedada a possibilidade de participação política aos analfabetos. Ou seja, sua proposta de ensino para adultos ultrapassava a mera transmissão de um código, era, de fato, a construção de processo político e pedagógico, na qual o engajamento era tão mais efetivo quanto a realidade dos educandos fosse trazida para a sala de aula, tornando-se esta objeto de conhecimento.
Paulo Freire ainda atacou veementemente o que ele chamou de educação bancária: mera transmissão e troca de conhecimentos, em um ambiente hierarquizado e excludente. Ao contrário, o processo pedagógico deveria fazer com que homens e mulheres recuperassem suas posições como sujeitos da história, numa relação dialética entre mundo objetivo e mundo subjetivo, criticamente.
Para o educador, a leitura do mundo precedia a leitura da palavra, por isso estruturou seu método para que o ensino da língua partisse do universo vocabular dos educandos, pesquisado no uso cotidiano junto à comunidade. A partir de tal universo vocabular, nos círculos de leitura, as palavras e as expressões eram discutidas em suas dimensões políticas e sociais para, então, partirem para a apreensão do código. Ou seja, antes de mais nada, era preciso atribuir significação aos objetos de aprendizagem, só assim, seria possível fazer do ato de educar também um ato de transformação social.
Em seus últimos anos de vida, Paulo Freire preocupou-se com uma ética planetária, com uma possibilidade de ser estar no mundo que fosse solidária e sustentável. Seu pensamento não se encaixa exatamente em nenhuma das grandes correntes epistemológicas do século, mas cruza várias, demonstrando sua imensa vitalidade e capacidade de estabelecer sentidos contemporaneamente.

Algumas obras do educador Paulo Freire:

• Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. Estudos Universitários – Revista de Cultura da Universidade do Recife. Número 4,1963:5-22.
• Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,1967.
• Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970.
• Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.
• A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo:Cortez Editora,1982.
• A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.
• Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.
• Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.
• Cartas a Cristina. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1974.
• À sombra desta mangueira. São Paulo: Editora Olho d’Água, 1995.
• Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.
• Mudar é difícil, mas é possível (Palestra proferida no SESI de Pernambuco). Recife: CNI/SESI, 1997-b.
Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000.
• Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez Editora, 2001.

Referências:

Coleção memória da pedagogia, n.4; Paulo Freire: a utopia do saber / editor Manuel da Costa Pinto; [colaboradores Moacir Gadottii...e AL]. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Segmento-Duetto, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.

Instituto Paulo Freire: http://www.paulofreire.org


Equipe:

  • Eliana Sampaio
  • Maria Cleusivan
  • Milene Machado
  • Kely Cristina Ribeiro
  • Laércio Machado
  • Mere Silva


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